Quer saber o fim dessa história?

Talvez você já tenha estado nas extensas florestas ao Norte, e talvez já tenha visto uma daquelas lagoas escuras e misteriosas, que se escondem lá no fundo da floresta, e que parecem mágicas e até assustadoras. Em volta, o silêncio é completo - a vegetação cerrada de abetos e pinheiros jaz serena ao redor. Por vezes, as árvores se debruçam sobre a água, mas o fazem com muito cuidado e timidez, pois só têm curiosidade acerca do que se oculta nas profundezas. Lá embaixo cresce outra floresta, envolta no mesmo encanto e imobilidade. Mas jamais as duas florestas conversaram entre si, o que é o maior dos mistérios.

Na beira, e aqui e ali na água, vê-se as mais doces moitas, vestidas em marrom musgo, e sobre as moitas encontram-se florezinhas brancas e lanosas. Tudo é tão silencioso - nem sequer um barulho, nem sequer um bater de asa, o balanço de uma brisa -, toda a natureza parece estar prendendo a respiração, e escute - escute com o coração palpitante: logo, logo, logo.

E assim começa um burburinho no topo dos altos pinheiros, e as copas se aproximam e se espaçam num suspiro cantante: sim, já o viram, longe, longe daqui, logo ele estará aqui, ele vem, ele vem. E o suspiro avança pela floresta, os arbustos sopram e falam em segredo, e as florezinhas brancas se curvam uma diante da outra: sim, ele vem, ele vem. E o espelho d'água se mexe e murmura: ele vem, ele vem. Ouve-se, de longe, alguns estalidos, que se aproximam e se misturam num estrondo, que aumenta, cresce, tornando-se uma quebradeira de arbustos, ramos e galhos; ouve-se algumas pisadas rumorosas e aceleradas, uma bufada ofegante e, com o peito úmido, um alce macho sai do mato e avança até a beira, detêm-se e sacode seu focinho arquejante e fareja ao redor. Ele agita sua galhada, as narinas tremem; depois, fica parado como uma estátua, mas, no instante seguinte, segue seu caminho a passos imponentes, sobre o fundo instável das moitas, e desaparece do outro lado da floresta.

Essa é a vida real. Agora a saga começa.